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Wilson Fittipaldi Júnior, que morreu nesta sexta-feira aos 80 anos, será lembrado como o maior nome da história da Fórmula Vee. Ele foi um dos pioneiros na criação da categoria e construiu o carro mais vitorioso na primeira fase da FVee no país. Nos últimos anos, ele trabalhou no desenvolvimento dos carros e no apoio à formação de novos pilotos.
No início dos anos 1960, Wilsinho levou adiante o dom que descobriu ainda adolescente para construir e preparar carros, herdado do pai, o barão Wilson Fittipaldi, um ícone do automobilismo nacional. Antes mesmo de atingir a maioridade, ele já cuidava de seu próprio kart. Os bons resultados atraíram amigos e outros competidores a frequentarem a oficina da família Fittipaldi.
Na época, já fazia sucesso o Mini Kart, uma revolução na modalidade, projetado e construído por Wilsinho. E já se ouviam nas garagens e oficinas os rumores da chegada de uma nova categoria que abalava as estruturas do automobilismo mundial, principalmente nos EUA e na Europa. Era a Fórmula Vee, que rompia a tradição de um esporte caro ao investir em carros de baixo custo, um sonho para a maioria dos pilotos, e com peças originais do Fusca.
Àquela altura o automobilismo brasileiro estava no auge de uma grave crise, com carros caríssimos e uma extensa lista de insegurança, com diversos acidentes fatais. Em busca de melhores caminhos, Wilsinho foi para a Buenos Aires, onde participou de uma corrida de Fórmula 3. Mas a incursão argentina não resultou em progresso. Percebendo a nova oportunidade que surgia no Brasil, Wilsinho pegou o avião novamente.
Wilson Fittipaldi Jr foi até o Automóvel Club da Alemanha, que imediatamente o colocou em contato com a Porsche – a responsável pelo departamento de competições da Volkswagen. A montadora alemã havia decidido investir na FVee ao perceber o sucesso da criação da categoria nos EUA, no início dos anos 1960. E principalmente ao ver os carros da Fórmula Vee construídos em garagens com as peças VW batendo na pista os poderosos Porsches.
Wilsinho voltou da Alemanha com o projeto original de um Fórmula Vee na bagagem. Além da tradição da família no esporte a motor, outro fator pesou nesta escolha: a VW tinha enormes interesses comerciais no Brasil, onde já era a principal montadora do país e acabara de instalar sua fábrica em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Além do projeto original, que fez toda a diferença, Wilsinho passou a ser abastecido com motor, câmbio, suspensão, rodas, freios, enfim, todas as peças originais Volkswagen de que necessitava. Os equipamentos eram retirados na revendedora Dacon, que havia aberto suas portas em 1964. A concessionária, que também passou a fabricar carros anos depois, funcionou até 1996. Ela ficava instalada no edifício icônico na esquina das avenidas Cidade Jardim e Faria Lima, em São Paulo, que mantém seu nome até hoje.
O apoio da VW foi decisivo para Wilsinho construir o carro mais vitorioso da história inicial da Fórmula Vee no Brasil, disputada de 1967 a 1970. Os carros saíram da fábrica de kart da família. Com os projetos entregues pela montadora diretamente da Alemanha, os bólidos dos Fittipaldis eram muito mais avançados diante dos demais fabricados no Brasil. Sua maior diferença estava no chassi mais estreito e rebaixado, o que dava um efeito aerodinâmico bem maior em relação à concorrência.
Ao todo, os Fitti-Vê venceram 16 (metade) das 32 provas disputadas nos primeiros anos. O sucesso também se deve a seu mais famoso piloto: Emerson Fittipaldi, que se consagrou campeão da primeira temporada da categoria no país. Logo depois, Wilsinho, Emerson e José Carlos Pace, que também iniciou sua carreira na FVee, seguiram para a Europa até chegarem à Fórmula 1.
Wilsinho só retornou à Fórmula Vee mais de 40 depois. Em 2016, o empresário Flavio Menezes fez o convite para ele assumir a função de consultor técnico da nova FVee. Após décadas esquecida, a categoria havia renascido com a construção de um novo carro, feito pelo engenheiro Roberto Zullino e lançado em 2011.
Durante cerca de cinco anos, Wilsinho trabalhou no desenvolvimento do Fórmula Vee. Para isso, contou com a ajuda do seu velho amigo, o projetista Ricardo Divila, que o acompanhou durante toda a carreira, principalmente na época da equipe Fittipaldi de Fórmula 1 (1975-1982).
Juntos, Wilsinho e Divila modernizaram os carros, com a substituição do antigo câmbio da Kombi de quatro marchas pelo do Gol de cinco marchas. Foi implantada também a nova suspensão traseira independente. Durante dois anos, eles trataram com a VW a retomada do apoio oficial, com a utilização de um novo motor, que seria o do UP turbo. Mas o plano não avançou.
Além das melhorias técnicas, Wilsinho foi o maior entusiasta da criação da Fórmula Vee Júnior. A subcategoria nasceu para atrair e ajudar a formação de jovens pilotos, principalmente aqueles saídos do kart. Dezenas de garotos passaram pela FVee Júnior e ouviram os conselhos e orientações do grande mestre. Muitos seguiram carreira e estão hoje em importantes categorias do automobilismo nacional.
“Para a Fórmula Vee, Wilsinho será sempre lembrado pelo seu entusiasmo, dedicação, paixão e amor ao automobilismo. Nós temos muito o que agradecer por tudo o que ele fez, não só pela categoria, mas também no tratamento que tinha e todo o seu carinho dedicado aos nossos pilotos”, afirma Flávio Menezes, diretor da FVee.
Homenagem
Amigos, parentes e a Fórmula Vee prestarão uma homenagem a Wilsinho neste sábado (24/2). O corpo será levado para uma última volta no autódromo de Interlagos, em caminhão dos Bombeiros, escoltado por dois carros da FVee. O cortejo está marcado para as 10h30.
Todos os carros da FVee também usarão um adesivo em homenagem a Wilsinho durante a prova pela 1ª etapa do Campeonato Paulista, que acontece às 13h10.
Foto: Fernando Santos/Divulgação FVee / www.fvee.com.br
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